XIII
"Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste
o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que,
para ouvi-las, muita vez desperto
E
abro as janelas, pálido de espanto...
E
conversamos toda a noite, enquanto
A
via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda
as procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: "Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas? Que sentido
Tem
o que dizem, quando estão contigo?"
E
eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois
só quem ama pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas".
XXV
“Tu,
que no pego impuro das orgias
Mergulhavas
ansioso e descontente,
E,
quando à tona vinhas de repente,
Cheias
as mãos de pérolas trazias;
Tu,
que do amor e pelo amor vivias,
E
que, como de límpida nascente,
Dos
lábios e dos olhos a torrente
Dos
versos e das lágrimas vertias;
Mestre
querido! viverás, enquanto
Houver
quem pulse o mágico instrumento,
E
preze a língua que prezavas tanto:
E
enquanto houver num canto do universo
Quem
ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba,
chorando, traduzir no verso.”
IV
Virgem do passo humano e do machado,
Onde apenas, horrendo, ecoa o brado
Do tigre, e cuja agreste ramaria
Não atravessa nunca a luz do dia,
Assim também, da luz do amor privado,
Tinhas o coração ermo e fechado,
Como a floresta secular, sombria...
Hoje, entre os ramos, a canção sonora
Soltam festivamente os passarinhos.
Tinge o cimo das árvores a aurora...
Palpitam flores, estremecem ninhos...
E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.”
Via Láctea – Olavo Bilac
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