Cena V
O mesmo. Um salão
em casa de Capuleto. Músicos esperam. Entram criados.
ROMEU - Que dama é aquela que enriquece o braço
daquele cavalheiro?
CRIADO -
Desconheço-a, meu senhor.
ROMEU -Oh! ela ensina a tocha a ser luzente.
Dir-se-ia que da face está pendente da noite, tal qual jóia, mui preciosa da
orelha de uma etíope mimosa. Bela demais para o uso, muito cara para a vida
terrena. Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais
donzelas. Vou procurá-la, ao terminar a dança porque a esta rude mão possa dar
ansa de tocar nela e, assim, ficar bendita. Meu coração, até hoje, teve a dita
de conhecer o amor? Oh! que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza.
TEBALDO
- Pela voz este aqui é algum Montecchio. Rapaz, vai buscar logo minha espada.
Como! Esse escravo atreve-se a, com máscara grotesca, vir aqui, para de nossa
festividade rir e fazer pouco? Pela honra do meu sangue e nobre estado, dar-lhe
a morte não julgo ser pecado.
CAPULETO -
Que tens, sobrinho? Que se dá contigo?
TEBALDO
- Tio, aquele é um Montecchio, nosso imigo; um vilão que aqui entrou por
zombaria, para nos estragar toda a alegria.
CAPULETO -
Não é o jovem Romeu?
TEBALDO -
O mesmo, o biltre Romeu.
CAPULETO -
Gentil sobrinho, fica quieto; deixa-o tranqüilo. Ele se tem mostrado perfeito gentil-homem.
Para ser-te franco, Verona tem orgulho dele, como rapaz virtuoso e mui polido.
Nem por toda a riqueza da cidade quisera que ele aqui fosse ofendido.
Acalma-te, portanto, e fica alegre; essa é a minha vontade. Se a acatares, fica
alegre e desfaze essa carranca que não vai bem com nossa alacridade.
TEBALDO -
Vai, sim, quando um vilão se mete nela. Não o suporto.
CAPULETO -
Terás de suportá-lo. Como, rapaz! Estou mandando: deixa-o! Quem manda aqui,
acaso; vós ou eu? Ora, não o suportais! Deus me salve a alma. Quereis fazer
barulho entre meus hóspedes? Provocar briga? Ser mandão na festa?
TEBALDO -
Mas, tio, é vergonhoso...
CAPULETO -
Ide, ide. Sois petulante, não? Prejudicar-vos ainda pode esta história. Sei de
tudo. Procurais contrariar-me? Eis o momento. - Muito bem, corações! - Sois um
fedelho. Ide acalmar-vos - Luz! Mais luz! - Que opróbrio! Já vou deixar-vos
quieto. - Assim, meus caros! Alegria! Alegria!
TEBALDO -
A paciência e o furor, equilibrados, inativos me deixam com seus brados. Vou
sair; mas o intruso que hoje é mel, será amanhã o mais amargo fel. (Sai.)
ROMEU - (a Julieta) - Se minha mão profana o
relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário,
demonstrará, com sobra, reverência.
JULIETA - Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se
mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo
mais santo e conveniente.
ROMEU - Os santos e os devotos não têm boca?
JULIETA - Sim, peregrino, só para orações.
ROMEU -Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o
caminho certo aos corações.
JULIETA - Sem se mexer, o santo exalça o voto.
ROMEU -Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua
boca me limpo dos pecados. (Beija-a.)
JULIETA -Que passaram, assim, para meus lábios.
ROMEU -Pecados meus? Oh! Quero-os retornados.
Devolve-mos.
JULIETA - Beijais tal qual os sábios.
AMA - Vossa mãe quer falar-vos, senhorita.
ROMEU - Quem é a mãe dela?
AMA - Ora essa, cavalheiro! A dona desta casa,
certamente, uma digna senhora, honesta e sábia. Amamentei-lhe a filha, a
senhorita com que falastes. E uma coisa eu digo, com certeza: quem vier a desposá-la,
ficará cheio de ouro.
ROMEU - É Capuleto? Oh conta cara! Minha vida é
dívida de hoje em diante no livro do inimigo.
BENVÓLIO -
A festa já acabou; vamos embora.
ROMEU -Acabou? Para mim começa agora.
CAPULETO -
Não, cavalheiros, não saiais tão cedo; ainda teremos uma ceiazinha. Mas partis
mesmo? A todos, obrigado. Muito obrigado, honesto cavalheiro. Boa noite. -
Trazei-me aqui mais tochas! Sendo assim, vou deitar-me. É certo, amigo: já está
ficando tarde. Vou deitar-me. (Saem todos, com exceção de Julieta e a ama.)
JULIETA -Ama, quem é aquele gentil-homem?
AMA -
Herdeiro e filho de Tibério, o velho.
JULIETA -E aquele que ora passa pela porta?
AMA - Se não me engano, é o filho de
Petrucchio.
JULIETA -E aquele que ali vai, que não dançou?
AMA -
Não sei quem seja.
JULIETA -Então vai perguntar-lhe como se chama. Vai! Se
for casado, um túmulo será todo o meu fado.
AMA -
Romeu é o nome dele; é um dos Montecchios, filho único do vosso grande imigo.
JULIETA - Como do amor a inimizade me arde! Desconhecido
e asnado muito tarde. Como esse monstro, o amor, brinca comigo: apaixonada
ver-me do inimigo!
AMA -
Como assim? Como assim?
JULIETA - Isso é uma rima que aprender fui com quem
dancei há pouco.
AMA -
Já vamos! Um momento! - Está na hora; já se foram os hóspedes embora. (Saem.)
ATO
II
Cena
I
Verona. Um beco junto do muro do
jardim de Capuleto. Entra Romeu.
ROMEU -Como afastar-me, se daqui não pode sair meu
coração? Dá meia-volta, pesada argila, e o centro teu procura. (Escala o
muro e salta para o jardim.) (Entram Benvólio e Mercúcio.)
BENVÓLIO -
Romeu! Primo Romeu!
MERCÚCIO -
Ele é prudente, por minha fé, e soube achar a estrada para o leito macio.
BENVÓLIO -
Em disparada veio até aqui, tendo pulado o muro que dá para o jardim. Chama-o, Mercúcio.
MERCÚCIO -
Vou conjurá-lo, sim. Romeu! Capricho! paixão! sujeito louco! enamorado! Vem sob
a forma de um gemido fundo; dize uma rima só, que isso me basta. Geme
"ai!" e rima "amor" com "trovador", dize à
comadre Vênus algo belo; o filho cego e herdeiro dela insulta, Cupido, o moço archeiro
que um disparo fez tão airoso, quando o Rei Cofétua se apaixonou de uma mendiga
jovem. Não ouve, não se mexe, está parado. O macaco está morto. Vou fazer-lhe um
conjuro mais forte. Eu te conjuro pelos olhos sem par de Rosalina, por sua
fronte, os lábios escarlates, os delicados pés, as belas pernas, as tremulantes
coxas e os domínios adjacentes. Conjuro-te, repito, que, tal como és, em nossa frente
surjas.
BENVÓLIO -
Se ele te ouve, decerto vais magoá-lo.
MERCÚCIO -
Não, isso não o magoa. O que o magoara fora invocar no circulo da amada um
espírito estranho e ai deixá-lo até que ela o tivesse exorcismado. Isso sim,
poderia aborrecê-lo; mas minha invocação é bela e honesta; o nome digo de sua
própria amada, só para que ele possa reanimar-se.
BENVÓLIO -
Vamos; ele ocultou-se entre essas árvores, para perto ficar da úmida noite. Seu
cego amor diz bem com a escuridão.
MERCÚCIO -
Se o amor é cego, nunca acerta no alvo. Agora vai sentar-se sob a fronde de um nespereiro,
a desejar que a amada fosse a fruta que as jovens chamam nêspera, quando riem
sozinhas. Ó Romeu! se ela fosse um "Et cetera", realmente, bem
aberto, e tu, pêra açucarada! Romeu, boa noite! Vou para meu leito de rodas;
esta cama de campanha para mim é muito úmida. - Não vamos?
BENVÓLIO -
Vamos, então; pois é canseira inútil procurar quem não quer ser encontrado.
Cena
II
O mesmo. Jardim de Capuleto. Entra
Romeu.
ROMEU - Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu
no corpo. (Julieta aparece na janela.) Mas silêncio! Que luz se escoa
agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata
a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto
que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é
invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a
fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala; contudo,
não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não;
sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas,
tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas
esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto os olhos
dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas
as estrelas, como o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no
céu espalhariam, que os pássaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o
rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face!
JULIETA -Ai de mim!
ROMEU - Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque
és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado
das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos,
que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja
no seio do ar sereno.
JULIETA -Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega
o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me
tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
ROMEU -(à parte) -
Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?
JULIETA - Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias
sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será
mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê
outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra
designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu,
conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca
teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo
inteira.
ROMEU - Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas
de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.
JULIETA -Quem és tu que, encoberto pela noite, entras
em meu segredo?
ROMEU -Por um nome não sei como dizer-te quem eu
seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse
diante de mim, escrito, o rasgaria.
JULIETA - Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras
sequer de tua boca, mas reconheço o tom. Não és Romeu, um dos Montecchios?
ROMEU -Não, bela menina; nem um nem outro, se isso te
desgosta.
JULIETA -Dize-me
como entraste e porque vieste. Muito alto é o muro do jardim, difícil de
escalar, sendo o ponto a própria morte - se quem és atendermos - caso fosses
encontrado por um dos meus parentes.
ROMEU - Do amor as lestes asas me fizeram transvoar o
muro, pois barreira alguma conseguirá deter do amor o curso, tentando o amor
tudo o que o amor realiza. Teus parentes, assim, não poderiam desviar-me do
propósito.
JULIETA - No caso de seres visto, poderão matar-te.
ROMEU - Ai! Em teus olhos há maior perigo do que em
vinte punhais de teus parentes. Olha-me com doçura, e é quanto basta para
deixar-me à prova do ódio deles.
JULIETA -Por
nada deste mundo desejara que fosses visto aqui.
ROMEU - A capa tenho da noite para deles ocultar-me.
Basta que me ames, e eles que me vejam! Prefiro ter cerceada logo a vida pelo
ódio deles, a ter morte longa, faltando o teu amor.
JULIETA - Com
quem tomaste informações para até aqui chegares?
ROMEU -Com o amor, que a inquirir me deu coragem;.
deu-me conselhos e eu lhe emprestei olhos. Não sou piloto; mas se te encontrasses
tão longe quanto a praia mais extensa que o mar longínquo banha, aventurara-me
para obter tão preciosa mercancia.
JULIETA - Sabe-lo
bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal
me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento.
Desejara - oh! minto! - retratar-me do que disse. Mas fora! fora com as
formalidades! Amas-me? Sei que vais dizer-me "sim", e creio no que
dizes. Se o jurares, porém, talvez te mostres inconstante, pois dos perjúrios dos
amantes, dizem, Jove sorri. Ó meu gentil Romeu! Se amas, proclama-o com
sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha conquista, vou tornar-me
ríspida, franzir o sobrecenho e dizer "não", porque me faças novamente
a corte. Se não, por nada, nada deste mundo. Belo Montecchio, é certo: estou
perdida, louca de amor; daí poder pensares que meu procedimento é assaz
leviano; mas podeis crer-me, cavalheiro, que hei de mais fiel mostrar-me do que
quantas têm bastante astúcia para serem cautas. Poderia ter sido mais prudente,
preciso confessá-lo, se não fosse teres ouvido sem que eu percebesse, minha
veraz paixão. Assim, perdoa-me, não imputando à leviandade, nunca, meu abandono
pronto, descoberto tão facilmente pela noite escura.
ROMEU -Senhora, juro pela santa lua que acairela de
prata as belas frondes de todas estas árvores frutíferas...
JULIETA - Não
jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os
meses, porque não pareça que teu amor, também, é assim mudável.
ROMEU -Por que devo jurar?
JULIETA -Não jures nada, ou jura, se o quiseres, por ti
mesmo, por tua nobre pessoa, que é o objeto de minha idolatria. Assim, te
creio.
ROMEU -Se o amor sincero deste coração...
JULIETA -Pára! não jures; muito embora sejas toda minha
alegria, não me alegra a aliança desta noite; irrefletida foi por demais,
precipitada, súbita, tal qual como o relâmpago que deixa de existir antes que dizer
possamos: Ei-lo! brilhou! Boa noite, meu querido. Que o hálito do estio
amadureça este botão de amor, porque ele possa numa flor transformar-se
delicada, quando outra vez nos virmos. Até à vista; boa noite. Possas ter a
mesma calma que neste instante se me apossa da alma.
ROMEU - Vais deixar-me sair mal satisfeito?
JULIETA -Que
alegria querias esta noite?
ROMEU - Trocar contigo o voto fiel de amor.
JULIETA -Antes que mo pedisses, já to dera; mas
desejara ter de dá-lo ainda.
ROMEU -Desejas retirá-lo? Com que intuito, querido
amor?
JULIETA - Porque,
mais generosa, de novo to ofertasse. No entretanto, não quero nada, afora o que
possuo. Minha bondade é como o mar: sem fim, e tão funda quanto ele. Posso
dar-te sem medida, que muito mais me sobra: ambos são infinitos. (A ama
chama dentro.) Ouço bulha dentro de casa. Adeus, amor! Adeus! - Ama, vou
já! - Sê fiel, doce Montecchio. Espera um momentinho; volto logo. (Retira-se
da janela.)
ROMEU -Oh! que noite abençoada! Tenho medo, de um
sonho, lisonjeiro em demasia para ser realidade. (Julieta torna a aparecer
em cima.)
JULIETA - Romeu
querido, só três palavrinhas, e boa noite outra vez. Se esse amoroso pendor for
sério e honesto, amanhã cedo me envia uma palavra pelo próprio que eu te
mandar: em que lugar e quando pretendes realizar a cerimônia, que a teus pés
deporei minha ventura, para seguir-te pelo mundo todo como a senhor e esposo.
AMA
(dentro) - Senhorita!
JULIETA - Já vou!
Já vou! - Porém se não for puro teu pensamento, peço-te...
AMA (dentro)
- Menina!
JULIETA - Já vou! Neste momento! - ... que não sigas com
tuas insistências e me deixes entregue à minha dor. Amanhã cedo te mandarei
recado por um próprio.
ROMEU -Por minha alma...
JULIETA -Boa noite vezes mil. (Retira-se.)
ROMEU -Não, má noite, sem tua luz
gentil. O amor procura o amor como o estudante que para a escola corre: num
instante. Mas, ao se afastar dele, o amor parece que se transforma em colegial
refece. (Faz menção de retirar-se.) (Julieta torna a aparecer em cima.)
JULIETA -Psiu! Romeu, psiu! Oh! quem me dera o grito do
falcoeiro, porque chamar pudesse esse nobre gavião! O cativeiro tem voz rouca;
não pode falar alto, senão eu forçaria a gruta de Eco, deixando ainda mais
rouca do que a minha sua voz aérea, à força de cem vezes o nome repetir do meu
Romeu.
ROMEU -Minha alma é que me chama pelo nome. Que doce
som de prata faz a língua dos amantes à noite, tal qual música langorosa que
ouvido atento escuta?
JULIETA -Romeu!
ROMEU - Minha querida?
JULIETA -A que horas, cedo, devo mandar alguém para
falar-te?
ROMEU -Às nove horas.
JULIETA -Sem falta. Só parece que até lá são vinte
anos. Esqueci-me do que tinha a dizer.
ROMEU -Deixa que eu fique parado aqui, até que te
recordes.
JULIETA - Esquecê-lo-ia, só para que sempre ficasses ai
parado, recordando-me de como adoro tua companhia.
ROMEU -E eu ficaria, para que esquecesses, deixando
de lembrar-me de outra casa que não fosse esta aqui.
JULIETA -É quase dia; desejara que já tivesses ido, não
mais longe, porém, do que travessa menina deixa o meigo passarinho, que das
mãos ela solta - tal qual pobre prisioneiro na corda bem torcida – para logo
puxá-lo novamente pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade.
ROMEU -Quisera ser teu passarinho.
JULIETA -O mesmo, querido, eu desejara; mas de tanto
te acariciar, podia, até, matar-te. Adeus; calca-me a dor com tanto afã, que
boa-noite eu diria até amanhã.
ROMEU - Que aos teus olhos o sono baixe e ao peito.
Fosse eu o sono e dormisse desse jeito! Vou procurar meu pai espiritual, para
um conselho lhe pedir leal.
(Sai.)
Romeu & Julieta - Shakespeare