Na mitologia grega Hera é a
deusa dos deuses, regente do casamento. Retratada como majestosa e solene,
muitas vezes coroada, Hera algumas vezes ostenta em sua mão uma romã, símbolo da
fertilidade, sangue e morte, um substituto para as cápsulas da papoula de ópio.
Argos Panoptes foi um dos seus fieis ajudantes e em recompensa, após sua morte,
ela o transformou em um pavão que passou a ser relacionado a ela. Iris era sua
fiel servente.
Hera, a mais excelsa das
deusas, é representada na Ilíada como orgulhosa, vaidosa, obstinada, ciumenta e
rixosa. Possuía sete templos na Grécia e mostrava apenas seus olhos aos
mortais, usando uma pena do seu pavão para marcar os locais que protegia. Como
esposa de Zeus, Hera também tinha poder sobre os fenômenos celestes. Podia
derramar chuvas benéficas ou desencadear tempestades. A união de Zeus e Hera
era como um símbolo de toda a natureza. O calor, as chuvas e os raios do sol
que penetravam no solo através do casal, fecundavam a Terra.
Presidia a casamentos e
nascimentos e era representada como uma respeitável matrona, conduzindo um
cetro ou coroa. Em Roma seu festival era chamado Matronália, onde era tratada
como Juno. Sua figura era considerada maléfica e vingativa, e Hera não poupava
seus inimigos e suas rivais. Hera teve quatro filhos, e nem mesmo com eles,
Hera foi condescendente:
Hefesto, a divindade do fogo e dos metais, foi considerado muito feio e
desajeitado quando nasceu. Hera jogou-o do Monte Olimpo tornando Hefesto coxo.
Mas Hefesto aprendeu um ofício e se tornou um hábil ferreiro. Casou com Afrodite, que tinha muitos amantes e seu
principal rival era seu irmão Ares.
Ares, deus da guerra e
da violência, tinha Éris como companheira de batalha - deusa da discórdia. Ares
amava o calor da batalha e exultava em derrotar o inimigo. Sempre foi repelido
pelos deuses pois estava sempre associado aos conflitos e guerras sangrentas,
usando sua força bruta e sem refinamento. Era amante de Afrodite, a esposa de
seu irmão Hefesto, com quem teve vários filhos, e também outras inúmeras
amantes.
Hebe, a deusa da eterna
juventude, servia néctar e ambrosia aos deuses. Casou-se com Héracles ou
Hércules quando ele foi aceito no Olimpo.
Ilítia era a deusa responsável pelos partos e foi convencida por Hera a
antecipar o parto da irmã de Alcmena, para evitar que Hercules fosse rei na
Grécia.
Segundo as lendas,
teria ainda gerado sozinha Tifão, um monstro terrível, que trazia o
corpo coberto por escamas, cabeças de dragão entre os dedos, lançando fogo dos
olhos.
Hera e Zeus tiveram as núpcias
no Jardim das Hespérides, em eterna primavera. Como legítima esposa de Zeus,
Hera foi considerada protetora das esposas e do amor legítimo. A deusa era
excessivamente ciumenta e sempre estava irritada com as infidelidades do
marido, perseguindo suas amantes e filhos.
Hera possuia muitas rivais,
entre elas, a bela Calisto. Por inveja da sua imensa beleza, que conquistara o
seu marido, transformou-a numa ursa. Helena de Tróia, possuia a reputação de
mulher mais bonita do mundo e isso despertava a inveja em Hera. Outra de suas
rivais foi Io, transformada em uma vaca e perseguida por Hera.
O único filho de Zeus que Hera
não odiava era Hermes e sua mãe Maia, porque Hermes demonstrou grande
habilidade e inteligência, tornando-se o mensageiro dos deuses. Hera também
provocou a morte de Sêmele quando ela estava grávida de Dioniso e tentou
impedir o nascimento dos gêmeos Apolo e Ártemis, filhos de Zeus e Leto. Para
fugir da vigilância da esposa, Zeus se metamorfoseava em diferentes formas,
como em touro, cisne, chuva de ouro ou no marido da mulher desejada, como fez
para seduzirAlcmena.
Quando Zeus engravidou a mortal
Alcmena, Ilitia predisse que o primeiro neto do pai da Alcmena ia se tornar o
rei da Grécia. Alcmena e sua irmã estavam grávidas. Hera, com ciúmes de Zeus,
pediu a Ilítia que causasse o parto da irmã antes de 9 meses e nasceu Euristeus
que se tornou rei da Grécia, posto que era reservado para Hercules.
Hera odiava, sobretudo,
Hercules. Quando ele nasceu, para torná-lo imortal, Zeus pediu a Hermes que o
levasse ao seio de Hera e o fizesse mamar. Ele sugou o leite divino com tanta
força que feriu a deusa. Hera o afastou com violência mas o leite continuou a
jorrar e as gotas formaram a Via Láctea.
Hera tentou matar Hercules
quando ele era apenas um bebê. Com sua tentativa frustrada de matá-lo ainda
criança, Hera influenciou Euristeus, que o envolveu em muitas aventuras
perigosas que ficaram conhecidas como "doze trabalhos". Mas Hércules
destruiu seus sete templos e, antes de terminar sua vida mortal, aprisionou
Hera em um jarro de barro que entregou a Zeus. Depois disso, ele foi aceito
como deus do Olimpo.
Tirésias também foi uma de suas
vítimas. Certa vez, tendo sido chamado para resolver uma questão entre Hera e
Zeus, enraivecida com as verdades do adivinho, Hera o cegou. Ixíon, rei dos
Lápitas, tentou seduzir a deusa, mas acabou abraçando uma nuvem, que Zeus
confeccionou à semelhança da esposa. Os Centauros nasceram dessa união. Para
castigar Íxion, Zeus fez com que se alimentasse de ambrosia, o manjar da imortalidade,
e o lançou-o no Tártaro, onde ficou girando eternamente numa roda de fogo.
Durante as núpcias de Peleu e
Tétis, Éris – a Discórdia – convidada a não comparecer, jogou uma maçã de ouro
para a mais bela das deusas. Nessa célebre disputa da mais bela deusa entre
Hera, Atena e Afrodite, Zeus incumbiu Paris de decidir a disputa. As deusas
tentaram subornar Paris, prometendo presentes em troca do voto: Hera ofereceu o
governo do mundo; Atena, sabedoria. Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher,
conseguindo ganhar o cobiçado título. Isso deu origem à famosa Guerra de Troia.
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O
mito de Hera se consolidou numa época em que a Grécia passava a defender os princípios
da monogamia e a adotava como regra, tornando necessário a personificação de
uma divindade que defendesse esses princípios. Eles foram atribuídos a Hera,
deusa-rainha, deusa-mãe, elevada à companheira de Zeus.
As
lendas que envolvem Hera mostram o ciúme excessivo, o desejo de vingança para
punir as traições do marido, a perseguição às amantes do marido infiel e,
consequentemente, os filhos que resultaram das infidelidades. É a
personificação humana que mais se aflora dentro de um deus e suas características
essenciais são levadas ao seu mais extremado zelo, que defende a perpetuação do
amor único e exclusivo entre os casais, o senso de justiça limitado ao lar, ao
casamento, à família, e a tudo que possa corromper esse universo.
Hera
é considerada o mais irritante dos mitos, porém é o mais humano deles. É a
personificação da mais pura essência da alma humana na forma de amar dentro de
uma relação consolidada pela sociedade, opondo-se aos amores clandestinos e dos
amantes da madrugada. É a essência do matrimônio e suas prisões psicológicas,
que são menores do que a visão de uma sociedade talhada pelos princípios da
monogamia.
Todo
simbolismo está contido no princípio do lar, da esposa perfeita, mantendo o
equilíbrio do casamento através da fidelidade exigida e jamais alcançada; da
mulher disposta à contendas conjugais com motivos para isso. Nos dias atuais,
embora a mulher conquistado seu espaço, os casamentos não se modificaram tanto
assim. Permanecemos em uma sociedade patriarcal e o casamento ainda é
considerado uma instituição de procriação.
As
mulheres continuam a sofrer violências domésticas e profissionais. A busca do
tão almejado casamento por amor com satisfação sexual plena, é castrado pelas
concepções obsoletas cristãs. Mas apesar de todas as limitações e deficiências
do casamento, a mulher sente-se profundamente atraída por estabelecer e manter
um relacionamento conjugal. Romanticamente todas sonham em compartilhar a
tarefa de criar seus filhos e estabelecer uma unidade chamada família.
Toda
Mulher-Hera sabe que o casamento é o caminho pela qual se chega à inteireza e
plenitude. O arquétipo de Hera leva a mulher a estabelecer um pacto de lealdade
e fidelidade com seu companheiro para sempre. Hera é a personificação do feminino
maduro, que sabe o que quer e só sentirá completa através do sagrado
matrimônio. Hera estabelece o arquétipo da relação homem-mulher numa sociedade
patriarcal, como esposa e companheira ideal. Assim, é uma deusa do casamento,
da maternidade e da fidelidade, além de ser a guardiã ciumenta do matrimônio.
No
mito, a prole pequena concebida dentro do casamento e numerosa nas relações
extraconjugais, tem em Ares - o deus da guerra, filho de Zeus e Hera, o simbolo
dos conflitos conjugais como também das tensões que nascem no mundo entre
homens e mulheres. Quando se desfaz de Hefesto, o filho desajeitado e Tifão, o
filho monstro, simboliza a rejeição da procriação sem amor.
Hera
não personifica os mistérios da maternidade, ela personifica os mistérios da
mulher dentro das relações afetivas ou conjugais. O arquétipo de Hera se
manifesta nas mulheres quando desejam apenas duas coisas: igualdade e parceria.
A esposa-Hera assume o trono ao lado do marido para compartilhar do seu poder.
Hera é a representação mais pura de que: "Junto de um grande homem, há
sempre, uma grande mulher...”.